O inebriante sabor da liberdade

Texto: Juliana Ferraz

Em uma tarde ensolarada, ao caminhar por um bairro tido como “alto padrão”, meus olhos se arregalaram para melhor admirar aquelas enormes e belíssimas casas, seus belos jardins e luxuosos carros em suas garagens. Era tudo tão lindo, tão ostentador.

Logo pensei como as pessoas que ali moravam eram felizes, possuíam uma bela morada, poderiam adquirir tudo que quisessem, visitar qualquer lugar, viajar, conhecer o mundo. Eram livres (e endinheiradas) para sonhar.

Comecei a pensar como queria ser uma daquelas pessoas, morar naquelas casas, dirigir aqueles carros, ter aquela vida.

Olhei, olhei, olhei mais um pouco e comecei a ver melhor… vi que em volta das casas haviam diversos homens cuidando da segurança. Que os carros eram blindados e que, na porta de uma escola de educação infantil desse mesmo bairro, haviam diversos seguranças.

Notei que nesse lugar haviam praças e parques, mas neles não havia nenhuma criança brincando. Também não havia ninguém passeando por aquelas ruas. Comecei a questionar se tanto dinheiro trazia liberdade e felicidade. Se realmente essas pessoas podiam fazer o que queriam. É! Acho que dinheiro em demasia nos priva da simplicidade do cotidiano, nos aprisiona.

Não estou dizendo que dinheiro não é necessário e bem-vindo. Todos querem ter uma casa confortável, uma mesa farta, acesso à educação e à cultura. Mas como diz a sabedoria popular, tudo em excesso faz mal.

Lembro de minha infância, quando brincava na rua ou de minha adolescência, quando passeava com meus amigos, sentia-me tão livre, era tão bom! Será que essas pessoas já sentiram a naturalidade das coisas simples? Acho que não.

Na sociedade do ter, o homem passa a vida inteira sonhando em possuir coisas que nem sabem ao certo se realmente precisam, apenas querem ter, ter, ter… esquecem de ser e o doce sabor que isso tem. Esquecem do quanto é bom ser livre, do quanto é bom ser feliz.

Acredito que enquanto eu caminhava por aquelas ruas admirando a vida daquelas pessoas, elas também me olhavam (por trás das grades de suas janelas), admirando como eu andava sossegada, sem medo de que algo ruim me acontecesse, por causa de dinheiro ou status social.

Nos anos 80, os Titãs já anunciaram e, em 2011 essa frase faz cada vez mais sentido: “Homem primata, capitalismo selvagem”.

Sobre Jean-Frédéric Pluvinage

Diretor da FoxTablet. Formado em Design Gráfico pelo SENAC e Jornalismo pelo CEUNSP. Mestre em Divulgação Científica e Cultural pelo LABJOR/UNICAMP.
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4 respostas a O inebriante sabor da liberdade

  1. Adilson Marinho diz:

    Esse texto reflete exatamente o que acontece nas classes mais abastadas!

  2. Ricardo Silva Rodrigues diz:

    Estou com você em gênero, número e grau do que foi exposto acerca da reflexão inserida no texto e acredito haver mais um de vários outros detalhes, pois o tema certamente é complexo: Óbviamente não vamos ser hipócritas em dizer que dinheiro não é tudo na vida, pois felizmente ou infelizmente temos que tê-lo para nos alimentar, nos cuidar, nos locomover dependendo da distância, etc…., mas dinheiro em excesso certamente acredito que nos leva a uma grande solidão, solidão esta que é alimentada pela falta de amizade, falta de companherismo, falta de relacionamento na vida em sociedade, falta de poder confiar em pessoas que outrora ou certamente em outra situação confiariamos certamente. Parabéns pela relfexão inserida no texto “O INEBRIANTE SABOR DA LIBERDADE”.

  3. Caio Dellagiustina diz:

    Belo texto Ju. Reflete exatamente a sociedade em que vivemos e nos faz pensar que as vezes é melhor ser rico apenas de felicidade.

  4. Kleber Alencar diz:

    Juliana, com certeza a virtude está no equilíbrio e, isso, é um pensamento inquestionável e há muito tempo pacífico. Os tempos são difíceis e não restam dúvidas no sentido de que as grandes fortunas impoem uma série de limitações aos seus detentores. Mas não consigo pensar que não seja bom ter muito dinheiro em razão
    dessas dificuldades. Dinheiro não é tudo? Não é! Ajuda muito? Ajuda! Mas chegamos a um ponto em que mesmo os filhos das famílias menos abastadas também não podem brincar em praças! Os bandidos entram também ( e principalmente) em residências não tão abastadas! Roubam veículos de pessoas da classe média, alta ou baixa, e de quebra, ainda as tornam vítimas de sequestros relâmpagos! Pois é… coitados desses ricos que, pelo menos, podem pagar seguranças particulares para proteger suas casas!!!? E as pobres criancinhas ricas, elas não podem brincar na pracinha, mas viajam anualmente ao menos uma vez para a Disney World, ou brincam com os amiguinhos de escola (Porto Seguro, Dante, etc) no recondito de suas casas, via de regra com os melhores brinquedos que o dinheiro pode comprar… enquanto isso, as da classe média não vão à pracinha, não vão prá Disney, não têm i-Pad, Play Station 3, nem coisa nenhuma! E o que falar dos carros blindados? Será melhor ter o seu Corsinha roubado em plena luz do dia em frente de casa???!!! Difícil decidir, né?
    Acredito que a discussão sempre deva se concentrar sobre ser feliz nessa vida! Ai sim a coisa muda de figura! Tem gente na favela feliz e tem gente endinherada feliz! Tem pobre com câncer e Aids e tem rico com câncer e Aids! Nessa hora, nem todo o dinheiro do mundo vai fazer grande diferença… mas faz um pouco sim! Será que o finado ex-Vice-Presidente da República, José Alencar, apesar da sua coragem e determinação, teria conseguido resistir tanto sem os melhores médicos, medicamentos, hospitais, etc???!!!
    Não tenho muito dinheiro e gostaria de ter mais, mas Deus tem me abençoado com o suficiente, por enquanto!
    Parabéns pelo seu texto, principalmente pelas ricas reflexões que enseja!

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