Televisão: a inocência perdida

Texto: Juliana Ferraz

Uma data extremamente marcante, 18 de setembro de 1950, dia oficial da primeira transmissão de televisão no Brasil. Esse incrível eletrodoméstico trazido por Assis Chateaubriand, polêmico e temido magnata das comunicações, encantou os brasileiros, conseguindo tirar o prestígio do rádio, no auge de sua “era de ouro”, quando toda a atenção da sociedade estava voltada para ele.

Esse novo meio de comunicação, muito influente e poderoso, continua até hoje, sessenta anos depois, encantando, ditando moda, opinião, hábitos, elegendo presidentes, criando celebridades (instantâneas ou não)… A atenção da sociedade brasileira agora amplia seus sentidos, antes ela era atingida somente pela audição, agora, além da audição, sua visão também é tomada pelo mundo fascinante da TV.

Os primeiros programas do tubo mágico eram repletos de personagens que ainda transmitiam a inocência da época, mas tabus foram sendo quebrados. O primeiro beijo transmitido em rede nacional causou grande furor… imaginem só, um beijo tipo “selinho” foi capaz de causar estranheza.

“Oh! que saudade que eu tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais!…” (Casimiro de Abreu)

Os anos foram passando e esse meio de comunicação sessentinha está cada vez mais assanhado. Mulheres seminuas são vistas diariamente, rebolando, se insinuando ou em cenas de “quase sexo” e contam com grande audiência. Tamanho pequeno, médio e grande, tanto faz, viva a democracia.

A mulher, outrora cultivada por seu comportamento recatado e pudoroso, é explorada ao máximo. Primeiro vieram os personagens: tiazinhas, feiticeiras, ninjas… foram evoluindo, evoluindo… e agora o que mandam são as frutas: melancia, morango, jaca, pêra… uma feira quase que completa.

Programas educativos? Para quê? Isso não dá audiência. Vamos “emburrecer” nossas crianças com programas sem conteúdo, que incentivem a violência e a erotização infantil.

Outra coisa que virou febre é o sensacionalismo. Vamos explorar a pobreza, o sofrimento alheio, a violência, a vida das celebridades e o que mais der para explorar, mas tudo ao máximo, de forma massante, até que um novo assunto surja.

E os reality shows se proliferando como “chuchu na cerca”? Todos querem seus quinze minutos de fama. Para se ter mais destaque, principalmente nos sensacionalistas, expõem seus corpos, suas vidas, suas emoções, banaliza-se tudo, o que importa é ficar famoso.

E o tubo mágico sessentinha não aceita ficar velho não. Aliás, o tubo recentemente passou por uma “lipo” e está fininho, quase como uma folha de papel, está digital, interativo, cada vez mais dinâmico e presente na vida das pessoas. De eletrodoméstico evolui para eletroportátil, podendo ser carregado para todos os lugares, afinal, não se pode perder nada dessa programação tão rica de conhecimento, não é mesmo?

O povo brasileiro gosta é disso, dessa programação cada vez mais pobre e fútil, que não incentive o raciocínio, a criticidade e que forme sua opinião.

Pensar? Não! Dá muito trabalho, pode deixar que a TV faz isso por mim.

Sobre Jean-Frédéric Pluvinage

Diretor da FoxTablet. Formado em Design Gráfico pelo SENAC e Jornalismo pelo CEUNSP. Mestre em Divulgação Científica e Cultural pelo LABJOR/UNICAMP.
Esta entrada foi publicada em Imprensa com as etiquetas , . ligação permanente.

Deixe um comentário